"Olhavam-se numa espécie de jogo do siso, com certo ar de majestades rivais e tranquilas, sem arrogância, nem baixeza, como se o mendigo dissesse ao céu:
- Afinal, não me hás de cair em cima.
E o céu:
- Nem tu me hás de escalar."
[Machado de Assis, Quincas Borba]
(Machado de Assis, sempre brilhante...)
31 de out. de 2012
30 de out. de 2012
endymion (trecho)
O
que é belo há de ser eternamente
Uma
alegria, e há de seguir presente.
Não
morre; onde quer que a vida breve
Nos
leve, há de nos dar um sono leve,
Cheio
de sonhos e de calmo alento.
Assim,
cabe tecer cada momento
Nessa
grinalda que nos entretece
À
terra, apesar da pouca messe
De
nobres naturezas, das agruras,
Das
nossas tristes aflições escuras,
Das
duras dores. Sim, ainda que rara,
Alguma
forma de beleza aclara
As
névoas da alma. O sol e a lua estão
Luzindo
e há sempre uma árvore onde vão
Sombrear-se
as ovelhas; cravos, cachos
De
uvas num mundo verde; riachos
Que
refrescam, e o bálsamo da aragem
Que
ameniza o calor; musgo, folhagem,
Campos,
aromas, flores, grãos, sementes,
E
a grandeza do fim que aos imponentes
Mortos
pensamos recobrir de glória,
E
os contos encantados na memória:
Fonte
sem fim dessa imortal bebida
Que
vem do céus e alenta a nossa vida.
[John Keats]
1 de out. de 2012
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